segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Uma parteira em Jericocoara

Jericocoara é um lugar de encontros surpreendentes...
Encontrá-la foi uma feliz coincidência. A noite, ao entrar num mercado, arrisquei perguntar se conheciam na cidade alguma parteira. "Sim, conheço, e eu sou afilhado dela!". Era noite o homem, já bastante bêbado me deixou na frente da casa recomendando: procure-a amanhã e diga-lhe que foi Titá quem lhe mandou.
No primeiro dia uma moça mais nova me atende e, cuidadosa, pede que eu volte no outro dia. Seguindo a indicação voltei, e mais tarde voltei de novo, até que pude encontrá-la pessoalmente, sentada no sofá de sua sala a costurar fuxicos retirados de um balde.
"Que é que você quer mesmo saber???", me pergunta ainda bastante desconfiada sobre minhas intenções. "Eu gostaria que a senhora me contasse umpouco de sua vida e suas histórias como parteira...". Ela desaredita, talvez não ache que suas histórias possam realmente interessar a uma moça visivelmente 'estrangeira'. "O primeiro parto eu fiz com 13 anos. Uma tia minha estava para parir, não tinha ninguém pra ajudar e meu tio não tinha um tostão pra pagar parteira. Então foiláem casa me chamar. Eu dise que não sabia fazer part não, mas me comovi com a necessidade e fui ajudar mesmo sem saber. Aí no caminho todo eu só fazia pensar e pedir pra deus me ensinar. Cheguei na casa e aí fiz o parto assim, como um pensamento. Eu nunca estudei, até hoje não sei ler nem escrever... Tudo o que eu aprendi foi assim, como um pensamento que chegou na minha cabeça dizendo assim direitinho o que é que eu tinha que fazer. Assim, antes de fazer um parto eu só faço é pensar... Fiz muito parto e nunca tive medo de fazer. Eu mepreparo, fao minhas orações. Quando eu pego um menino, quando eu olho assim uma barriga eu sei o que eu tô falando. É o pensamento que vem na minha cabeça... Minha mãe axhava muito estranho eu ser parteira. Ela teve vários filho, mas que não vingou. Aí meu pai brincanva bem assim comigo: Tu foi a que te criou, a mais feia, a mais rabugenta, e a que vingou... foi logo tu que vingou... Meu pai tinha três famílias diferentes na época. (...) Tem mulher que grita- pra quê gritá??? Não sai pela boca!!! Eu fala assim pra elas que não tem que gritá - o segredo é não gritá na primeira dor. (...) Tem gente que tem de elástico, e aí vai abrindo facinho, facinho que é uma beleza... Aí o bebe nasce e a mulher volta ao normal.(...) Quem fez meus partos fui sempre eu. Eu sentia que as dor tava começando, sentava no banquinho e aí só fazia esperar. Uma vez eu acordei e virei pra meu marido ' fulano acorda que eu tô sofrendo'. Ai fui na cozinha e senti as dor começa... Eu gritei pra ele me ajudar que a menina ía nascer - ele assustou e começou a chorar... Chorava que soluçava... Eu disse 'me dê um pano que a menina vai nascer!'. E foi assim. (...) Nada nomundo me faz medo- porque o medo só faz a gente sofrer, ser fraco. Eu não tenho medo de morrer, eu só tenho medo de deixar meus filho sofrê. Ter medo pra quê... a vida é boa demais!"

O relato não pôde ser gravado, fotografado... O relato fica assim, reescrito a partir de minhas poucas anotações, ingenuamente compartilhado, gravado com intensidade na minha memória, o corpo que em mim escutou.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

10 dias em Urubamba - parte 01

Perto da avenida SOL, a principal de Cusco, encontram-se os onibus que vao a Urubamba, cidade situada no Vale Sagrado. A viagem num micro Ônibus popular (que leva de cachorro a sacos de milho) custa 03 soles e dura 1h30. E já o caminho é um desbunde (seria o adjetivo 'desbunde' uma informacao descadeirada de minha coluna viajante?)... A paisagem reserva um incrìvel encontro com os Andes, superpovoado de ovelhas, porcos e porquinhos e.... e.... e.... LLAMAS! Mas como sao lindas! Eu desacreditava, mas esses serezinhos sao de um poder encantador!!!
Urubamba é uma cidade pequena, mas bastante agràvel! Ao contrário da badalada Cusco, aqui um estrangeiro nao é constantemente molestado e pode circular tranquilamente pelo mercado e lojas da regiao. A experiencia de transporte em Urubamba é das mais divertidas: moto táxi com banquinho atrás! Em alguns dias adicionarei imagens... mas é uma moto com cobertura e lugar para duas pessoas (parecidas com o mototáxi asiático).
Urubamba, mas que um motivo turístico, entrou na rota por um motivo afetivo: foi lá que o christan se integrou como voluntário em 2003 e 2005, num lar especial para meninos e meninas chamado Mosoq Runa (gente nova em quechua).

...o post continua....

A encantadora CUSCO

Chegar a noite no terminal de Cusco pode ser uma experiencia barulhenta: a belissima cidade peruana é povoada de turistas e as agencias e hostels da cidade designam enviados a recepcionar os turistas já na chegada com ofertas, precos e condicoes. Como na Bolivia, o jeito mais fácil (e bastante economico) de se locomover é chamar um táxi, ou melhor, aceitar um (já que chamar é pouco necessário). Da parte de fora do termnal â Plaza de armas (que é o nome de toda praca central no Peru) custa 3 soles...
E aí comeca o momento cotacao: aqui a moeda é mais forte - 01 real corresponde a 1 sole e 50 (diferente da vantajosa margem boliviana). Mas apesar do cambio menos vantajoso, os precos no Peru sao em geral razoáveis...
O centro de Cusco é mesmo lindo! A recepcao de luzes na Plaza de armas é encantadora, emoldurada pelas construcoes coloniais, igrejas e cafés que serpenteiam o centro. Muitos turistas circulam e a noite tem uma vida agradàvel. Apesar de ser um pouco tarde, encontramos um hostel agradàvel, com tv a cabo (nossa! tv! nem lembrava mais ...) banho privado (o que nao é regra coum em bolìvia-peru) por 40 soles o 'casal'. Deixar as bagagens e respirar a arquitetura do centro (acompanhado de um sorvete de morango D'onofrio) é barato e responde às expectativas de um bom viajante - ampliar os pulmoes com novos ares...
Cuzco também traz boas opções de vistação a museus. Um dos mais interessantes é o Museo do Inca, localizado o centro da cidade. Além da introdução á cultura e aos aspectos históricos dos Incas, a visita reserva um corredor dedicado aos rituais funerais e de sepultamento que valem a pena.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

um incidente argentino

Vamos comecar as discussoes filosoficas: terá algum fundamento render-se aos preconceitos nacionais....ou, melhor dizendo, teremos nós um real motivo para odiar os argentinos???
Certo, generalizar é sempre um erro, mas vamos combinar que, se nao todos, a grande maioria dos argentinos (provenientes da Buenos Aires) que se encontram em situacao de turismo (pode ser que na casa deles a situacao seja diferente) sao uns grandes mau-educados!
Episódio prático: compramos a passagem de COPACABANA (Bolívia) para PUNO (Peru) - ah! por 90 bolivianos cada. äs 08h30 da manha nos apresentamos ao onibus, tomamos nossos lugares (que se escolhiam só na hora) quando nos deparamos com um exaltado exagerado e barulhento grupo de 04 argentinos (provavelmente dois casais na casa dos 45 anos).
Ok. A agitacao turística é compreensível, mas a solidariedade é um dom humano nao?
Pois se deu que, antes de partir percebeu-se um movimento de mais pessoas que lugares disponíveis, quando passa pelo onibus uma jovem turista européia a solicitar um assento que nao tinha ninguém, quando um dos integrantes do coletivo argentino responde: Sorry, ocupado! A garota se resigna e faz uma viagem de 03 horas na escada do onibus (e nao estamos falando de um onibus turitico de luxo, nao mesmo!!!
A duvida moral está no seguinte: os 04 argentinos compraram 06 lugares, a fim de ter uma viagem mais confortável (ué, se eles tem dinheiro...) mas nao ceder lugar a jovem turista e, no banco vago colocar sua mochila pessoal (dessas pequenininhas, que cabem com folga no porta bagagem superior), há alguma humanidade nisso!!!! E mais, compreendo o problema - a empresa boliviana provocou a confusao, mas eles sao desorganizados a esse ponto, se sabe... coitada da garota que nao chegou antes para pegar um lugar... MAS SE VANGLORIAR DURANTE 1 HORA DA VIAGEM DE QUE SE DIZERAM RESPEITAR PORQUE DEIXARAM UMA TURISTA VIAJAR NAS ESCADAS AO LADO DO MOTORISTA??????? E SE FOSSE OUTRO ARGENTINO, ELES DEIXARIAM UM CONTERRANEO SE LASCAR TAMBÉM????

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

02 noites em COPACABANA


Sim, nao é apenas o Rio de janeiro que tem sua cidade maravilhosa... Alias, a bela cidade carioca roubou (ao que consta) o nome dessa simpática cidade boliviana. O lugar é pequeno, bonito e acolhedor, situado ás margens do Lago Titicaca.
Uma dica de hospedagem em Copacabana é o hotel GEORGES. Talvez ele nao tenha sito na internet, nem luminoso de neon, mas foi o melhor custo-beneficio encontrado. Nao é a toa que GEORGES é frequentado mais pelos turistas locais, que pelos "gringos" nos gerais. rsrsrsrs A hospedagem sai por 50 bolivianos a noite para duas pessoas - a média dos outros lugares é pelo menos 100. A noite em Copacabana é ligeiramente fria, mas tem um charme muito atraente. Pequenos restaurantes, internets café, mercadinhos e várias lojinhas de "artesania" colorem as ruas e oferecem aos passeante uma atmosfera mais que agradável. Comer também nao é caro. O turista brasileiro pode tranquilamente se render a un desayuno por 12 bolivianos(que sao cerca de 3,50 reais) completíssimo e uma bela janta por 15 bolivianos. A coisa mais simpática é se render aos hábitos locais, como comer uma truta inteira na frente do lago titicaca em barraquinhas geridas por mamitas. O peixe acompanha salada ou fritas e sai por 18 bolivianos. Já a vista do lago titicaca nao tem preço.
Copacabana: andar em pedalinho
no Lago Titicaca... Por que não?

Ficar em Copacabana no final de semana foi um verdadeiro privilégio - no domingo acontece uma espécie de celebração ou festa de 'benzeção' dos carros. Forma-se uma fila de carros floridos e decorados que toma uma das poucas ruas da cidade. Muitas vezes o capô dos veículos está aberto com objetos que representam os desejos dos donos (como dinheiro, uma casa, saúde para os filhos, etc.)

Ali pode-se comprar uma passagem de barco para a ILHA DO SOL. A viagem é bonita e dura cerca de 1h30 pelo Lago Titicaca. No barco, provavelmente será oferecido o servico de guia turístico. Bom, o passeio á ilha do Sol (com um guia que custa 20 bolivianos por pessoa) tem o seu caráter folclorístico, mas nao é assim uma riqueza. Como muitos dos principais pontos da Bolívia, também esse perde um pouco do seu charme por conta do comércio. Sem súvida a ilha é bonita, mas nao deve ser incluída por forca no trajeto de todo viajante. A parte a pouca impressao que a ilha nos causou, valeu conhecer um pouco da cultura Tiuhanaco, uma tradicao pré-inca que durou muito mais que a famosa dinastia.

sábado, 26 de dezembro de 2009

De Santa Cruz a La Paz

Santa Cruz segue mais ou menos o mesmo perfil das oputras cidades que percorri neste curto perìodo de tempo: Cochabamba e La Paz. Nesses três lugares o plano foi o mesmo: chegar de ônibus pela manha, deixar as malas no porta-bagagens da rodoviária (3 bolivianos) e percorrer o perímetro urbano até o final da noite (quando mais um ônibus nos espera). A viagem em ônibus leito de SANTA CRUZ-COCHABAMBA custa cerca de 70 bolivianos e é bastante confortável - mas, ah! - os banheiros!
Esses merecem um capítulo a parte... deixando de lado todo o prazer de viajar e as belezas que nos oferecem essa terra hermana latino-americana... SANTO DEUS; o que são os banheiros!!!!!Talvez já tenham sido piores em outras épocas, mas sao ainda dotados de regras de conduta as quais nao estou acostumada... por exemplo o fato de homens circularem e USAREM tranquilamente o banheiro feminino... No inìcio achei que era coincidência, um tipo folgado que veio roubar papel no toalete dos outros, mas o lance é que isso acontece sempre! Além disso, qualquer banheiro, em qualquer lugar e em qualquer horário tem gente, espera, ou , no mínimo, bem movimentado! É grande a quantidade de banheiros que nao tem água (eca!)... Excessao a isso, claro, sao os banheiros de cafes e restaurante médios dos centros.
Bom...
Cochabamba nos apresentou um cenário desafiador (ou fomos nós que pedimos muito dela): chegamos ao centro da cidade ás 7 da manha, de um dia chuvoso, do DIA DE NATAL! hahahahah Precisamos caminhar algumas horas a fim de comecarmos a encontrar conforto...
No fim, o dia em Cochabamba mostrou-se riquíssimo - nao tanto pelo turismo - se vc nao vai ficar hospedado na regiao para conhecer o entorno, pode sem culpa pular a cidade da sua rota... Mas como era Natal, Eu e Chri organizamos nossa comemoração: Café da manha americanos especial (desses que a gente vê em filme da sessao da tarde... ovos, waffles, etc... Depois o almoco de Natal foi realizado nun simpatisíssimo restaurante na avenida BALLIVAN (que reune os melhores restaurantes da cidade, apreciados pela variável e módica quantia que vai dos 13 aos 25 bolivianos ... dos 4 aos 10 reais!!!!!!!).

O final do Natal foi de um prazer quase retrô: assistimos â matine no cine de rua ASTOR, com outras centenas de criancas e familiares... e o melhor, pague um assista 02! Nao fosse a atualidade da superproducao AVATAR (que aliás recomendo) poderia facilmente transportar-me a uma atmosfera anos 80!
De COCHABAMBA-LA PAZ mais um onibus na noite... mas a parada em LA PAZ foi ainda mais curta - ás 14 pegamos um onibus para COPACABANA, cidade proxima ao lago Titicaca, lugar que certamente vai pedir ao menos uma noite de estada! Ou mais!!!!


La Paz

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Como atravessar a fronteira BRASIL-BOLÍVIA... um guia para turistas iniciantes...

Capítulo I - de como uma urbe-girl se arranja em sua viagem de fèrias...

E lá vamos nós! Viajar! Período de férias e descobertas... E aqui segue o relato deste início de viagem, um possível guia para quem quiser conhecer Bolívia-Peru da forma mais barata mochila-conforto que nos foi possível descobrir... Mi compañero di viaje es el mio pareja: christian...
A rota nao está completamente decididida, mas decidimos partir de Sao Paulo em direcao a Corumbá, cidade fronteira do Mato Grosso do Sul.

No meio do caminho tinha um boizinho Tinha um boizinho no meio do caminho....


O onibus (R$ 220,00) é bastante confortàvel, mas esteja preparado para eventuais atrasos. O ônibus conta com poucos brasileiros... a maioria é mesmo de bolivianos que estao voltando para casa passar o natal...
Depois de 24 horas de viagem chegamos a rodoviária de Corumbá onde decidimos passar uma noite... Pagamos 5 reais para que um moto-táxi nos leve até o centro, no HOTEL ANGOLA (o que é relativamente caro, mas depois de 24 horas de onibus, quem tinha pique de pechinchar????). O Angola está localizado ao lado de um terminal de Onibus e perto da praca da republica... lá é possível pegar um quarto para duas pessoas (50 reais) com vista para o porto de Corumbá, que foi reformado a pouco tempo e oferece um ótimo cenário para passear tomando uma 'geladinha' (sim, aquele saquinho com suco congelado dentro).

Corumbá

A boa para comer bem e barato em corumbá é o restaurante PANELA VELHA (que fica na rua 15 de novembro). A comida é caseira mesmo, e com 10 reais vc come a vontade (com direito a sobremesa).
Corumbá nos ofereceu por coincidência um ótimo cenário natalino: uma representacao de Natal com direito a coro de criancas e fanfarra da cidade... A representacao tinha um caráter 'kitch-experimental-contemporaneo´.
representação de Natal

Os atores inicialmente representavam atrás de um tecido branco, sobre o qual se projetavam imagens paisagísticas, tipo as da tela de descanso do windons... tudo acompanhado de uima narrativa dublada por uma árvore falante localizada de forma estratègica entre dois teloes (o porque de um tronco de árvore narrar a história do menino Jesus nao sei e desisti de saber logo nos primeiros minutos de representacao). Logo o anjo Gabriel aparece: é um ator tipo estátua viva que sobe misteriosamente acompanhado de nuvem fumaca e estrobo (um elemento experimental, nao?). A isso segue-se o nascimento do menino Jesus, festejado com uma bela danca do ventre realizada por tres mocas (seria o elemento kitch ou contemporaneo). O mesmo recurso (a danca do ventre, mas agora acompanhada por uma musica pseudo tecno arabe) festeja a chegada dos reis magos... a musica em fade out dá espaco a dublagem do anjo... trata-se do artigo 1 dos direito humanos (caracter experimental contemporaneo... e politico). Descrito assim, até parece que o espetáculo nao foi prazeroso... o que nao é absolutamente verdade... o clima e a atmosfera nao podiam ser mais férias do que isso... Comida de barraquinha, caipirinha e luzes, muitas luzes de Natal.
De Corumbá atravessamos a fronteira para pegar o trem que vai de QUIJARRO a SANTA CRUZ. (Bom lembrar que compramos a passagem um dia antes de embarcarmos). Brasileiros podem passar só com o RG, mas devem passar pela polícia boliviana da fronteira para pegar um papel, sem o qual paga-se uma multa para sair do país. Tem um Onibus de linha (R$ 2,00) que te deixa na frontera - dali segue-se a pé até a bolívia (5 minutos) e pode-se negociar um taxi até a estacao de trem por 5 bolivianos por pessoa (eles podem querer cobrar a mais...nao pague... pechinchar é o primeiro verbo numa viagem pela Bolívia). Para aqueles que como eu, nao entendem nada de cotacao, 1 real pode ser trocado hoje por 3,50 bolivianos! E isso é que tem tranformado a Bolívia num país tao atrativo para os brasileiros.... O trem para Santa Cruz mais barato parte as 12h45 (e custa 115 bolivianos). A viagem nao é das mais comodas, mas é certamente mais segura do que se imagina. O "trem da morte" já nao merece este carinhoso apelido (com todo respeito). Os lugares sao numerados e o cenario é o pantanal boliviano, pontuado por alguns vilarejos e estacoes nas quais o trem para pelo caminha. DICA: se vc decidir fazer essa viagem de trem pode contar com uma bagagem de, pelo menos, duas garrafas de água grande por pessoa!O calor é de matar e água é artigo raro e caro no caminho! Vende-se de tudo no trem: empanadas (que sao deliciosas e podem ser apreciadas sem medo), pratos com frango, espetinho de carne, pipoca, gelinho, limonada, café... Em algumas paradas a populacao fica nos portões a espera do trem que chega... e saem com as bandejas vazias! Mas, a comida nao é para qualquer um... Tomar água ou suco não industrializado é firmemente desaconselhado! Nao se deixe levar pela maré de pessoas que usufruem prazerosamente o seu suco ou geladinho... a água boliviana nao é segura como no Brasil... e o pior é que dá uma vontade de se render!
Bom, de trem foram já mais 20 horas de viagem (dá pra chegar quebrado!) até SANTA CRUZ, onde vale a pena descer e dar uma voltinha até pegar o onibus para Cochabamba (a viagem de cerca de 20 horas custa 70 bolivianos com onibus leito super espacoso!)...



Santa Cruz

Aqui em Santa Cruz vale a pena almocar no café restaurante Porto Fino - fica bem perto da praca 24 de setembro. O almoco executivo (25 bolivianos) inclui sopa, segundo, bebida e salada de fruta e é fantástico... uma forma boa e barata de satisfazer o apetite turístico de novidades!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A experiência de um dezembro cheio...

Ou pontuações costumeiras de um ano que parece não acabar...

2009 é um ano que se despede sem querer ir...Sou dessas que não se fidam muito das percepções das pessoas sobre os anos, e pouco endosso comentários do tipo: Passou rápido! Nossa, que ano difícil! Anos não são pessoas, apesar de seguramente possuírem características particulares... e nem que fossem gente caberiam em classificação universal... Um ano difícil pra mim não significa o mesmo para uma criança indiana, ou para uma garçonete tailandesa. Mas, apesar de toda descrença em unidade de sensação, desabafo uma constatação: esseé um desses anos que não quer se transformar... Particularmente terei saudades de 2009, ou melhor, guardarei com prazer as memórias dascoisas que nesse ano aconteci/me aconteceram... Ou melhor... que ainda estão acontecendo... Dezembro já é e já está para acabar, e eu ainda nem expeimentei a ansiedade das festas, o tempo vago a olhar as luzes, as limpezas de fundo de armário... o ano acaba sem tudo acabado - expectativas, projetos, escritas, idéias e cena, tanta cena....

Foi nesse dezembro agitado que ainda achei (ou melhor, criei) buraco para uma experiência sobre o trabalho de Grotowski coordenada numa oficina por François Kanh. Um trabalho sobre Grotowski sem falar no próprio, um trabalho que estava vivo no propositor e no qual nos debruçamos com muita curiosidade... 01 exercício, apenas 01 exercício em 05 dias de 05 horas de trabalho.... um exercício, e a cada execução uma busca, um mundo de possibilidades, o mar naufragável das percepções objetivas-internas-poéticas...

um mundo de novos mares abertos em pleno dezembro... e pode ser melhor que isso?

Cordãozinho

"Quando eu era pequeno eu tinha um grande problema...ás vezes eu tinha dor de cabeça e dor de garganta... até aqui nada de estranho, não é de fato prazerosos, mas é uma coisa que acontece a todos... porém contecia também de me fazerem mal as calças quando a mamãe as colocava nalavadoura e aquela espécie de ventoinha que tem lá dentro as fazia bater de um lado para outro, me fazia mal o gato quando alguém puxava seu rabo e me fazia mal a cadeira quando se sentava nela o tio Pasqual, que pesa mais de uma tonelada e a qualquer momento a afunda...." Ermanno Bencivenga

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

de quando a vida se mostra insuperável...

Uma reunião de coisas acontecem e nos inebriam, nos aproximam da sensação de eternidade.... e no instante seguinte estamos novamente nós, defrotados e afrontados com a pequeniz e a fragilidade do corpo... retornei a um livro... retornei e ele continua provocando-me as mesmas intensidades... falo do escritos que já transcendeu a pontuação, fala de saramago e seu 'evangelhoe segundo jesus cristo', segundo o mártir heróico ocidental que faz-se homem o português deste escritor que me tragou há anos, anos atrás. revivi as imagens da crucificação de josé, e na minha mente acorre de eu me perguntar 'mas onde está escrito que ele se crucificou, onde??? volto à cabeça ao horizonte e respiro as reflexões que me passam sem conseguir traduzí-las em palavras... fecho o livro e, como josé, tenho sonhos e mais sonhos, como se a pró´ria leitura ativasse uma parte do meu cérebro responsável pelo contato com o arquetípico...
nessa manhã, ao chegar ao colégio onde tenho aulas de teatro curriculares (penso, ó deus, quanto foste generoso com estas crianças), chego e há algo no ar.... uma tensão, um choro... um aluno querido, querido que morreu. acidente de carro. acidente de vida. não bastasse acomoção dos professores, as sala de aula estão caladas, um luto ocidental... a perda gravada no rosto...os meninos ganham ar de adultos, tocam por instantes a verdade aterradora da vida... às vezes choram, às vezes calam.... os celulares funcionam, chamam, a internet busca notícias, busca o outro que já não está lá e não mais estará... seu corpo deixa a ausência, talvez jamais sentida por esses adultos-crianças, por esses corpo em trauma... sentem a falta e a vizinhança da morte, a sutileza e fragilidade da continuidade... calam-se porque tocam o conhecimento inexorável da vida, calm-se porque sabem de uma verdade que antes não sabiam ou se encontravam esquecida... calam-se porque a dor profunda deve permanecer inaudita...calam-se porque o conhecimento profundo lhes foi trasmitido e sentem o peso da responsabilidade e rezam para que haja alguma real esperança de que o corpo possa ser superado...

terça-feira, 25 de agosto de 2009

até o sol nascer

Neste último final de semana fui a Barão Geraldo para fazer um workshop... Esses momentos são para mim pequenos respiros no cotidiano e provocam a avaliação do andamento de minhas perguntas. O que falta perguntar? Onde a pergunta se fez certeza sem razão?
Sair da cidade por dois dias já não é tarefa simples; inclui mudar, mexer e cancelar, gastar, contar com.... mas por fim, ares novos se aproximam. Mas afinal, em apenas dois dias? A entrada de novos ares depende do espaço disponível de quem respira, e acho que não o contrário....
Assim, demos uma pausa a esta filosofia aérea... Dos dois dias de trabalho, atenho-me discretamente apenas ao 2°. Meia-noite de sábado para domingo - a sala de trabalho da sede do Lume Teatro já está cheia novamente. Ao lado da porta uma pilha de cobertores e garrafinhas de água, do lado de fora da porta o frio agravado pela madrugada, do lado de dentro alongamento e espreguiçamentos e aumento dos batimentos para estar pronto a trabalhar... E a madrugada flui como um sonho... Persis-Jade, do PARA-ACTIVE começa dizendo em seu inglês suave e fluido: Me interessa saber se há diferença entre o trabalho realizado durante o dia e realizado durante a noite... E assim vamos, tentando sentir se o corpo reage o mesmo, se o coração sente o mesmo, se tudo é igual .... ou não. Ao contrário do que imaginei, o sono não é exatamente um obstáculo...ele sai de escanteio logo nos primeiros instantes. O frio se sente, mas não se impõe. Os corpos trabalham. E tudo segue assim, as propostas, os intervalos (uh! o intervalo de trina minutos, ese deixa o sono chegar)... Perto das 5h da manhã o aviso - nos preparemos para uma ação pública. Pública, mas para que público? - brinco mentalmente.
Assim, celulares sincronizados para tocar as 06h10, nos preparamos, com mochilas e apetrechos guardados e saímos rumo à rodoviária de Barão. Ao chegar, cada um escolhe um espaço, uma calçada, uma parte da cidade-centrinho de Barão e começa, 15 minutos antes das 06h10, a dançar a mudança de luz do amanhecer... Penso com meus botões que a ação é simples e poetica, mas sem grandes consequências... Penso que.... não, agora já não penso tanto... Percebo a mudança de luz, percebo maior do que é? Sério que a cada segundo o céu já não é o mesmo? O corpo trabalha diferente de dia ? Trabalho diferente de noite? 06h10 e todos correm no lugar.... estou na direção do sol, estou na direção do sol... para onde estão olhando os outros?.... Todos. Todos correm em direção ao Sol.... Viro o rosto e correndo no lugar respiro.... a disponobilidade de quem respira o ar... e a quase pausa... expandir, dançar..... conteplar.... Já essa é uma ação, disse Jade algumas horas atrás. E assimilo fisicamente o sentido de trabalhar na madrugada, assimilo sem nominar a riqueza de se respirar o nascer do Sol, assimilo e regozijo o silêmcio cultivo em horas de trabalho...e renovo meus votos de prazer a um trabalho provocativo e disciplinado, a um trabalho que produz um corte no cotidiano, mesmo que o corte seja de alguns instantes.
06h25.
acaba a ação pública, acaba e sem nos despedirmos e quase sem nos olharmos, cada um pega seu violão e sua sacola e parte rumo à casa, ou ao lugar onde deve ir.....

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A gripe suína ou uma avaliação dos afetos...

Taí... acho que a tanto tempo não me comovo por uma epidemia. Alardes e exageros a parte, não estou acostumada a uma gripe que modifique tanto as estruturascomportamentais quanto esta gripe A- ou, carinhosamente apelidada, gripe do porquinho. Não sou comumente alarmista, mas este vírus está causando uma revolução comportamental tão alastrada quanto foi aquela sexual depois do HIV, mesmo que esta revolução seja temporária.
Afinal, não é de espantar que, devido aos meios de propagação da doença, a famosa 'paz de cristo' católica tenha perdido vez! Agora nem dar a mão para o irmão pode! Beijinho no rosto e abraço em conhecido ainda acontecem, mas não é recomendado.... o vírus se propaga no contato....
E esta se faz uma bela oportunidade.... quais os afetos que mantemos.... Neste momento em que a gripe nos faz pensar, somos capazes de definir quantas pessoas abraçamos por dia? Ou os famosos beijinhos.... Não é fantástico sair do lugar comum para perceber as cotidianeidades sobre um ponto de vista aumentado?

E para quem espirrar.... SAÙDE!